Wednesday 3 November 2010

G de Gatinho

Alô alô... está aí alguém? Duvido, depois de uma paragem tão duradoura...
Achavam que me calava? Nem pensar! Caramba, desde Maio que o computador estava confuso... Agora já consigo trabalhar decentemente, desde que instalei o  Leopardo das Neves que Pedro-do-meu-coração me enviou. Já o meu irmão me tinha enviado o antecessor, o simples Leopardo, mas ele não ronronou...
Contudo, a internet só está a funcionar no telemóvel, por isso tenho a felicidade de ler os emails que me enviam, mas responder é uma chatice. Tenho de estar altamente inspirada para dar ao polegar cheia de fé.
Bom, estou em Georgetown, a trabalho e conhaque, por isso vou estar skypável até Sábado.
Voltando ao MACaco e aos gatinhos, sempre que vou correr ou fazer uma caminhada, desejo ver um leopardo ou um dos muitos bichanos grandes que há por aqui. É claro que nunca pensei no sentido prático, i.e. sobrevivência! Há dias, por volta das 6 da manhã estava a correr no caminho principal, que vai dar a muitos campos de minas de ouro, quando vejo uma puma a atravessar o caminho na diagonal, no meu sentido! Parei, claro, porque gato que é gato fica excitado ao ver agitação. Vários pensamentos simultâneos me ocorreram:
1 - Está mas é sossegada, que se tu viste o gato, ele que é gato, viu-te há mais tempo ainda.
2 - Oh caneco, será que tem fome?
3 - Não me adianta fugir, que o animal é mais veloz do que eu, sem qualquer dúvida.
Dei uns passos atrás e pensei que o melhor seria esperar que alguma carrinha passasse e me levasse dali - fosse para onde fosse! É claro que entretanto o animal já estava escondido por entre a densa flora da selva. Depois de estar parada na beira da estrada, apercebi-me de que nada impedia bicho algum de estar precisamente no lado onde me refugiara... portanto peguei em dois paus e voltei para casa, de olhos bem abertos e punhos cerrados. Passo firme e lento.
Lá cheguei a casa e usei os paus como estacas, para apoiar as plantas de bora (uma espécie de feijão verde, mas cilíndrico, em vez de achatado).
Bom, com beijos me despeço. Até já!

Monday 28 June 2010

desligada

queridos todos,
estraguei o telefone modem e apanhei uma animada febre, mas agora estou bem. ja o modem, coitado, foi declarado mortissimo. aguardo um novo que o trio maravilha mandou pelo correio!
beijos e abracos, espero que estejam bem!
mandem noticias!!

Friday 21 May 2010

F de...

F de falsas estâncias turísticas
Está a desenvolver-se um projecto de reflorestação na minha região – Potaro Siparuni, aka Region 8 – que pretende servir de modelo na transformação de solos empobrecidos pela actividade mineira, em terras férteis.
Este projecto resulta da colaboração de várias entidades: GENCAPD (Projecto de Desenvolvimento Ambiental da Guiana), GGMC (Comissão de Geologia e Minas da Guiana), Comissão das Florestas da Guiana, Ministério da Agricultura e Universidade da Guiana. É financiado pela CIDA (Agência de Desenvolvimento Internacional Canadiana).
Estive por lá ontem e vi as muitas experiências que andam a fazer, com1600 acácias plantadas, em diferentes condições.
Há, por exemplo, uma zona em que se limitaram a plantar as acácias; outra onde juntaram uma bactéria que ajuda a fixar nitrogénio; outra onde plantaram seis tipos de cassava, para ver qual se dá ali melhor; uma espécie de erva, que servirá de alimento a animais de pasto; Entre outros.
Eis um nódulo:
A partir desta experiência, pretende-se criar um “TECHPAK”, que será disponibilizado aos mineiros, de forma a ajudá-los a cumprir os regulamentos relacionados com o ambiente.
Da actividade mineira resultam enormes poças de água, autênticas lagoas de água excessivamente rica em minério. Poluída. Terminada a exploração, é preciso deixar assentar metais. A princípio, a cor da água é clara, como que um leite chocolatado. Depois passa a um verde-mar:
Entretanto atinge a fase falsa estância. Esta cor é provocada pelo elevado nível de alumínio. Portanto nada de cair em tentações e mergulhar, que não faria bem nenhum à pele!






Esta é uma fase experimental, mas pretende-se que reflorestar faça parte do processo mineiro. Parece-me uma ideia gira, mas custa-me acreditar que esta seja a salvação da floresta. Será que os jaguares voltarão assim que crescerem as acácias?
Fico a
torcer para que em Setembro de 2010, altura de conclusão do projecto, o país seja capaz de dar continuidade, de forma sustentável, à reanimação das florestas desventradas pela actividade mineira.
Aproveito para vos desejar um excelente fim-de-semana!

Thursday 13 May 2010

F de feliz por ter a f&a que tenho!

...e F de FESTA!


Meus queridos, Obrigada!! Como emudeci (cof cof), tirei umas fotografias para colocar aqui no blog, mas a internet não me deixa. Assim, passei tudo para um pdf fraquito e enviei por mail ;) Cris, se quiseres pôr aqui, força! Amo-vos!! Para quem não viu, fica o link:

Wednesday 12 May 2010

E... de Especial

Esta mensagem não segue quaisquer regras do alfabeto. Pode, no entanto, ser considerada uma excepção, e por isso mesmo, vou repetir a letra E. E de Especial, que é o que tu és!
Bjs grandes, directamente de Portugal!

Tuesday 27 April 2010

E de...

... electricidade controlada
Foi surpreendentemente fácil habituar-me a só ter electricidade à noite.
O Roger tem um grande gerador que produz electricidade para Mahdia. Obrigada Roger! Em teoria funciona das 18h às 6h. Na prática há uns descontos.
Nunca pensei no assunto antes de decidir vir para cá, simplesmente porque estava habituada a ter electricidade a qualquer hora, em qualquer lugar. Mas a verdade é que a electricidade faz mais falta à noite, que é quando a tenho. Quase sempre.
Há umas lamparinas pela casa, que acendo sempre que a electricidade falha. Quando isso acontece, fecho o livro, vejo com as mãos o caminho até à lamparina mais próxima, ligo o ipod e espero. Nada como um intervalo!
Falando em ipod, já esgotei as pilhas que trouxe para as colunas. As que se vendem por cá são tão fortes como as que vocês aí metem no pilhão.
Queixinhas fora, vive-se bem com electricidade (des)controlada. É uma questão de organização e gestão de tomadas. O maior mistério para mim, antes de aqui chegar, era o frigorífico. Com tanto calor, será que as pessoas vivem sem frigorífico? Resposta afirmativa, para o comum dos habitantes. Eu faço parte dos sortudos que têm um (o quarteirão dos funcionários públicos tem casa de banho dentro de casa e frigorífico). A minha mãe falou-me dos frigoríficos a gás e pensei que o meu fosse desses. Ao entrar na cozinha vi que era um electrodoméstico normal. Em suma, à noite é um frigorífico e de dia é uma caixa térmica gigante.
Guardo garrafas de água no congelador e assim tenho gelo durante o dia. Não é de acesso fácil, mas cumpre e agora que trouxe rum da capital, já posso bebê-lo on the rocks. Saúde!

... e Ecoturismo

O turismo na Guiana é como os domingos: tanto pode ser uma experiência bonita, única e idílica, cheia de descanso e dores musculares das boas, como pode ser um poço de frustrações e esperas aborrecidas, com as portas todas fechadas. Este é a meu ver o grande problema de se fazer turismo aqui, sobretudo quando se vem habituado ao livro de reclamações e satisfação do cliente. Aqui há o acaso. As únicas experiências de turismo que tive cá dentro foram maravilhosas e sei que tive sorte.
Passei a Páscoa na Região 9 e fui cobaia do David. Filho de mãe ameríndia e pai africano, David tem uma família lindíssima, imensa energia e muita força de vontade.
Este senhor já trabalhou em tudo e já se candidatou (a si e à aldeia) a mil projectos, tendo ganho imensos subsídios para imensos projectos que, na maior parte dos casos, morreram pelo caminho. Este é um novo projecto e parece ter boas pernas para andar. Precisa de exercitar os músculos turísticos. Deixo então os contactos, para que possam ajudar, enquanto se deliciam com o que esta terra tem para oferecer:

1. Parishara Village - David Ng-A-Fook
+592 6974608
Eu o Dan fomos as cobaias da experiência do David. Ele tinha participado numa oficina sobre eco turismo, ficou entusiasmado, pediu a casa emprestada à professora primária, convidou-nos e falou com uns quantos vizinhos: Nasceu uma possibilidade muito bonita.
É tudo novo, em termos de oferta turística e o David está sempre por perto e atento, com tudo feito à nossa medida. Tenham o cuidado de não pedir demais, porque ele vai fazer de tudo para conseguir satisfazer os vossos caprichos!
Ficámos na casa junto à escola, que é onde vive a professora em tempo de aulas, mas tínhamos levado hammoques e dissemos-lhe que normalmente um cliente que procure eco-turismo, dorme em hammoque feliz e contente. Ele disse que estavam a construir um benab para esse efeito, junto à sua casa. Bem giro, feito com folhas de palmeira. Fotos assim que a ligação o permitir.
De madrugada, antes do nascer do sol num céu gigante, procurámos o papa formigas gigante, que não nos quis conhecer. Soube tão bem ouvir o silêncio mais puro, nem vento nem pássaro a quebrar. Aprendemos a fazer pão de cassava, comemos um delicioso peixe dali e ouvimos histórias sobre os animais e as pessoas da savana, pela voz de um ameríndio, Lionel John. Ele é também o líder daquela aldeia e artesão. Trouxe um papa formigas em madeira de leopardo para o meu afilhado!

2. Maipama Eco-Lodge – Guy Frederick
+592 6969789
+592 6968461
Aqui já se recebem turistas há quase 10 anos. É bem no meio da selva e não há electricidade, mas há vodka com gelo... Passo a explicar: Como querem agradar ao turista e sabem que este está habituado a ter electricidade para tudo (ele é escova de dentes eléctrica, máquina de barbear, ar condicionado, rádio, computador, telemóvel, liquidificador, torradeira e por aí em diante), plantaram um gerador. Este, claro está, é barulhento e os clientes queixaram-se que tinham vindo para tão longe, procurando ouvir apenas a voz da mãe natureza e dos seus filhos. Abundam por aqui!
Podem ficar pelo lodge (perdoai-me o português), usufruindo de banhos no riacho de águas cristalinas a agradáveis temperaturas, com pequenos peixes curiosos, ou podem caminhar até às Jordan Falls, a cerca de 14km dali. Quem tiver bom andamento pode ir e voltar no mesmo dia, eu escolhi a versão ligeira e aproveitei a contraditória força do poderoso rio para me embalar nas leituras e para me massajar nos banhos. Pernoitámos lá, passeámos mais um bocado no dia seguinte e regressámos, de pernas doridas e sorriso no rosto (Acho que a parte das pernas doridas não se estende ao Dan).

Aconselho vivamente o mesmo que eu fiz: uns dias na savana de céu e silêncio infinitos, na aldeia de Parishara, e uns dias na selva, onde o céu é minúsculo e há um constante espectáculo de som e cor, entre howler monkeys (relevem e traduzam lá sff que não posso abrir sites, está bem?), sapos, pássaros e pirilampos atrevidos. Ah, isto faz-me lembrar que vi finalmente a ave de que tanto se fala por cá, cock of the rock. São muito tímidos mesmo, por isso qualquer ruído os faz fugir.

D de desconsolo

Desconsolada com o desconcerto de ideias pobrezinhas e miseravelmente articuladas que a linda letra d suscitou, resolvi apagar o post e passar por cima, deixando um espaço em branco a onde quero voltar.

Se ignorarmos a Guiana, “e” pode ser de emoções. A morte abala-nos as bases, deixa-nos as pernas a tremer, porque nos recorda que acontece a todos. Podemos perder as nossas pessoas e não há treino que nos prepare para tamanha injustiça. De nada serve saber que é inevitável. Não há tempo nem sinal que nos prepare. Não há consolo. É triste e como tal, sofre-se. Depois é preciso aceitar-se, libertarmo-nos do sentimento de injustiça, focarmo-nos na história que nos uniu e guardarmos imagens bonitas, que podemos e devemos partilhar: a sorte de termos sido parte da vida daquela pessoa.

Achava (ou ainda acho?) que o Mephaquin me anda a deixar zonza durante dois dias todas as semanas. A informação existente sobre a mefloquina é contraditória e depois de muita leitura, discussão e ponderação, resolvi continuar a fazer a profilaxia. Em resumo, os médicos locais aconselham a profilaxia (mefloquina ou doxiciclina, de acordo com cada caso) às pessoas que tenham passado a maior parte da vida em países livres de malária, porque acreditam que a doença nos atinge com gravidade preocupante. Quanto aos “nativos”, encaram a doença com a leveza de um resfriado. Nem sequer como uma gripe, apenas um resfriado.

Com o coração enregelado por ter perdido a chamado do meu querido António e com hits (ouve-se baby love, beach boys; I’m a believer, the monkees; heart of glass, blondie... entre outros!) nos ouvidos, aviso que voltarei com o “e” de Ecoturismo e electricidade!
Beijos e abraços

Wednesday 24 March 2010

C de...

Cama de rede

Prefiro a palavra inglesa, hammock. Agrada-me mais a ideia de “hammocar”* do que a ideia de “dormir numa cama de rede”. Chamemos-lhe hamoque por hoje. Com agá e sem furores homicidas nem opiáceos.
O local ideal para um hamoque é na varanda da casa. Àqueles que estão já a torcer o nariz, porque é entre duas árvores que se planta um hamoque, no meio da natureza real, digo que o equilíbrio é que é bonito: há lugar para as duas opções, quando se vive na selva! Mais, é bom ter um frigorífico à mão, ainda que este só esteja ligado durante a noite. As varandas são simpáticas, porque têm menos quantidade e variedade de bichos. E vêem-se as estrelas de igual forma. Como não tenho varanda, pendurei o meu hamoque na sala umas noites antes da partida, de forma a treinar o corpo para o sono baloiçado. Bem ao centro. Abro as janelas de paredes opostas e baloiço-me enquanto leio ou me deixo estar, simplesmente. Mesmo quando o vento não sopra, o movimento hamocante cria uma brisa maravilhosa.
Por falar em maravilhas, um hamoque para fins recreativos e românticos é uma coisa; pendurá-lo para que nele possamos cumprir o milagre do sono descansado é outra. É fácil, mas uma miúda não adivinha, caramba. Portanto depois de muita tentativa, erro e reflexão (ai avaliação, sempre presente!), sou perita. Aceitai algumas dicas:
- Se há pouca distância entre as duas extremidades do hamoque, o truque é esticá-lo mais, subindo-o. Assim fica mais direito e confortável, apesar de alto e perigoso para o tombo. Como o espaço que tenho é relativamente pequeno, da primeira vez senti-me uma sanduíche, com os pés a querem tocar a cabeça! Mas depois subi o hamoque e a qualidade acompanhou o movimento.
- Os nós são importantíssimos. Maninho, és bem capaz de me ter ensinado uns perfeitos para isto nas nossas aventuras pela escalada... Não existe um “nó certo”; importante é que não se desfaça. Nas noites de treino do sono hamocado, lembro-me que esta era uma das razões de insónia: estava sempre a mirar os nós e ver se se tinham mexido na ausência do meu olhar atento. Quando cá vierem logo vêem como se dão os nós. Sou boa a dar o nó :p
- Podemo-nos deitar no hamoque free style; Não tem de ser de rabo para baixo. Foi uma alegria perceber que me podia deitar de lado! Zzzz

Ainda só usei o meu hamoque num contexto autêntico durante um par de noites e foi bom. Muito bom: Passei um fim-de-semana numa ilha situada no poderoso Potaro: Ilha de Amatuk. Fomos até Pamela Landing numa das típicas carrinhas 4x4 (os empreiteiros portugueses deviam vir viver para aqui, pelo menos teriam real motivo para usarem estas gigantes pick ups). Ninguém me explicou porque se chama “landing”, já que ninguém aterra por ali. Metemo-nos num pequeno e velho barco de madeira e deslizámos sobre as águas do Potaro durante cerca de hora e meia. 


A ilha de Amatuk é pequena: uns 200 metros redondos (quadrados, vá). É melhor virem cá ver, porque eu não sou de confiança nisto das estimativas. Culpo as minhas professoras primárias  por esta limitação! Limitações para trás, foi fantástico ter uma banheira gigante a meus pés durante um fim-de-semana. Pena é que eu seja muito tímida no modo como me relaciono com as enguias eléctricas e piranhas; Senão teria nadado a bom nadar. Assim, fui refrescando o corpo e a mente muitas e deliciosas vezes.
Por lá andava um menino ameríndio de 9 anos com imensa piada, que me ensinou uns truques de cartas. Não sabia ler, mas isso é um outro texto...

* Dedicatória do post: Juom, aqui tens a resposta à pergunta sobre o verbo ;)  

Tuesday 16 March 2010

B de bois na minha rua

Depois de ser perseguida por uma manada de vacas no País de Gales, confesso que aprendi a lidar melhor com vacas. Pelo menos sei que quando têm crias não nos devemos aproximar porque podem atacar, defendendo a prole; Descobri também que apesar de estarem a correr na minha direcção, havia a possibilidade de estarem apenas curiosas em relação a este ser de duas pernas que lhes entrou campo adentro (o que, considerando o tamanho e ar zombie destes bichos, é suficiente); Aprendi que quando se anda a passear um cão, se houver uma manada de vacas, o melhor é levar o cão ao colo, porque elas ficam loucas quando vêm quatro patas. Como vêm, Ty Newyth foi só aprender!
Do país de Gales para a Guiana: Digo-vos que as ruas são uma animação de cores e ruídos. A terra batida e abatida na maioria dos lugares é vermelha, os cães magricelas mancos ou com três patas, os gatos lingrinhas e com peladas, as almofadas andantes que são as ovelhas, os bodes com as suas longas barbas e mais longos ainda testículos (credo, não tinha noção do tamanho!), as galinhas bravas animadas, as galinhas chocas e poedeiras (acho que estou a inventar, não sei), os galos que cantam de 12 em 12 horas, às 6 certas, os sistemas de som das enormes carrinhas americanas dos garimpeiros, os psssst dos transeuntes do sexo masculino aquando da passagem de qualquer fêmea e os longos muuuuu dos bois pretos, enchem estas 3 ruas da minha querida Mahdia.
Como tinha ouvido falar tanto dos garimpeiros e que não se podia andar na rua porque nos andariam sempre a assediar, não trouxe sapatilhas nem roupa para correr. Assim, quando ontem decidi correr pela primeira vez, fiz-me ao caminho com as botas de caminhada e uns trapos mais largos. Não é o mais recomendável nem o mais confortável, mas soube-me tão bem que não podem calcular. Foi um prazer só comparável ao de comer pão quente com manteiga de amendoim hoje pela primeira vez. 

Continuem a mandar mails, sms e cartas, contando-me das vossas vidas. Gosto imenso de saber o que andam a fazer. É um misto de sentimentos: é tão estranho quando sei que as coisas aí estão a mudar. Um secreto desejo de que tudo congele na minha ausência. Suponho que seja o meu inconsciente a achar que bem basta tudo o que em mim vai mudar, portanto é preferível acreditar que o “meu mundo” com os “meus amores dentro” se mantenha igual e seguro. Mas esse é só dos lados, o outro lado - maior - quer e precisa de pormenores da vida real, que é uma das maneiras que tenho de sentir que ainda vos pertenço.
Beijos, saudades, amor

Sunday 7 March 2010

A de Ameríndio


A de Ameríndio
A primeira escola que visitei foi Micobie. É geograficamente perto de Mahdia, mas demora-se muito a chegar lá, uma vez que o caminho é feito em terra batida e abatida. A maior parte do percurso foi feita a passo de caracol, com a tracção às quatro rodas ligada. O que aqui nos vale é que o condutor é um senhor experiente e responsável. Obrigada Andy! Não posso precisar o tempo que demorámos, porque já me aculturei, ou seja: foi muito. Isso pode ser qualquer coisa entre a hora e meia e as 3 horas.
É tal a animação do percurso que me esqueci do que ia dizer: ameríndios! Pois bem, o professor da primeira escola que visitei é ameríndio e disse-me que todos os alunos da escola são da família dele.
Segundo os estudo arqueológicos, os ameríndios são o povo indígena deste país. De acordo com o Bradt Guide, eles estão cá desde 9000AC. Crê-se que tenham vindo da Ásia. A mesma fonte diz que há vestígios de comunidades agrícolas responsáveis pelo cultivo de cassava com mais de 3000 anos.
Na próxima 4ª feira parto numa excitante viagem pelas escolas mais remotas desta região. O caminho far-se-á de carrinha (4x4); ATV (moto 4); barco; avioneta e a pé. Não há por cá comboios!
Partimos no dia 10 e regressaremos no dia 24/25. São muitos dias e vou tentar deixar-vos o mapa, para que tenham ideia dos lugares por onde andaremos. Ignorem “Kaieteur” – era o meu subconsciente! Não vou lá nesta viagem. A informação foi-me dada oralmente e em vez de Kato, entendi “Kaieteur”.
Se trabalhar com as escolas daqui de Mahdia já vai ser um desafio (falta de motivação dos professores que encaram o ensino como uma plataforma de acesso a empregos melhores, turmas enormes, alunos de 16 anos que não sabem ler, etc.) estas escolas serão ainda mais complicadas, porque chegar lá implica muita logística e preparação. Talvez passe um par de semanas em cada uma, a dar formação/apoiar os professores. Vou mas é deixar a carroça ir atrás dos bois e decidir quando a altura chegar!

Tudo a torcer para que corra bem bem bem:-)
Mil beijos e mimos para vocês


blogando em português para vocês!


Resolvi criar este blogue em português para os meus amigos portugueses, que não gostam de ler inglês. Nomeadamente a minha “Sélêna”, Verinha e Zu. Sois lindas e mereceis :-)

Sabem que a minha criatividade é limitada, por isso, o formato deste espaço será semelhante ao Raquelvso.blogspot.com, ou seja, o abecedário! Sou mesmo professora primária, não sou? Um complementará o outro, porque as palavras serão diferentes, naturalmente.
Espero que gostem. Até já!